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Do Caos à Segurança: Como Criar um Processo de Resposta a Incidentes Eficaz na Sua Empresa

Por Leonardo Cordeiro

Para pequenas e médias empresas (PMEs), lidar com incidentes de segurança cibernética pode parecer um desafio assustador, muitas vezes criando um cenário de “caos” quando ocorrem ataques. Este artigo apresenta estratégias para estruturar um processo de resposta a incidentes, destacando sua importância para mitigar riscos e garantir a continuidade dos negócios. Vamos explorar como as PMEs podem transformar o caos em segurança com um processo eficaz de resposta a incidentes, garantindo proteção e continuidade dos negócios.

Panorama de Ameaças no Brasil

O Brasil tem registrado um aumento significativo nos ataques cibernéticos nos últimos anos. No terceiro trimestre de 2024, o país registrou um aumento significativo nos ciberataques, com organizações sendo alvo de milhares de ataques semanais (Fonte: Fortinet Threat Intelligence, 2024). Além disso, no primeiro trimestre de 2024, houve um aumento de 38% nos ciberataques no Brasil em relação ao último trimestre de 2023 (Fonte: Trend Micro Security Roundup, 2024).

As PMEs são particularmente vulneráveis, representando uma parcela significativa das vítimas de ataques cibernéticos. Esses ataques podem causar prejuízos financeiros, roubo de dados sensíveis e, em alguns casos, a interrupção das atividades. A escassez de mão de obra qualificada em cibersegurança agrava a situação, dificultando a implementação de medidas eficazes de proteção.

Vale lembrar que as PMEs são um alvo frequente de ataques cibernéticos, pois podem ser vistas como uma “porta de entrada” para violar os sistemas de empresas maiores. Os invasores podem explorar vulnerabilidades dessas empresas, que muitas das vezes possuem controles de segurança básicos, para acessar informações sensíveis de empresas maiores, que normalmente possuem medidas de segurança mais robustas. Diante deste cenário, a implementação de um processo de resposta a incidentes eficaz é essencial para que as PMEs possam mitigar riscos e minimizar os impactos de ataques cibernéticos.

O risco cibernético é real. Investir em Segurança Cibernética é mais que essencial, é uma obrigação.

Os Desafios das PMEs

As PMEs enfrentam desafios significativos para se protegerem dos riscos cibernéticos, especialmente por não possuírem uma equipe dedicada exclusivamente à segurança cibernética. Geralmente, a área de TI acaba acumulando essas responsabilidades, o que gera limitações devido ao conhecimento básico de segurança cibernética e da disponibilidade de recursos. Além disso, convencer a alta gestão a investir em segurança cibernética é um desafio adicional.

Para superar esses desafios, uma abordagem baseada em risco pode ser uma ferramenta poderosa. Essa abordagem foca na priorização de investimentos em segurança de acordo com os riscos que mais impactam o negócio, mas iremos tratar esse tema mais pra frente neste artigo.

Os principais desafios incluem:

 

  • Falta de Investimento: A escassez de recursos financeiros é um dos maiores desafios, principalmente em momentos de instabilidade da economia. Muitas vezes, os investimentos em segurança são considerados custos extras e não uma necessidade de negócio, deixando as empresas vulneráveis a ameaças que podem gerar riscos com consequências graves.

Escassez de Mão de Obra Qualificada: A falta de profissionais especializados dificulta a implementação e a manutenção de medidas eficazes de segurança. Além disso a empresa precisa implementar um programa de capacitação especializado, que leva meses e até anos para a equipe ter o conhecimento técnico e maturidade para mitigar os riscos da organização.

Conscientização e Cultura de Segurança: A falta de conscientização dos colaboradores é uma das causas mais comuns de incidentes, especialmente aqueles envolvendo phishing e violações de senhas. Um dos principais vetores de ataque são relacionados ao comprometimento da Identidade.

Para superar esses desafios, é essencial convencer a alta gestão sobre a importância de estruturar um processo de resposta a incidentes que proteja a empresa contra as ameaças avançadas e emergentes. Mas aí fica a pergunta, como convencer a alta gestão a investir e segurança.

Como Convencer a Alta Gestão a Investir em Segurança Cibernética

Um dos maiores desafios enfrentados pelas áreas de TI das PMEs é convencer a alta gestão sobre a importância de investir em segurança cibernética, especialmente na estruturação de um processo de resposta a incidentes. Esse investimento muitas vezes é visto como um custo adicional, sem retorno financeiro direto. No entanto, uma abordagem eficaz para ganhar apoio da alta administração é utilizar uma estratégia baseada em risco.

A abordagem baseada em risco envolve identificar e priorizar os riscos que mais afetam o negócio, destacando os impactos financeiros e operacionais que um incidente cibernético pode causar. Essa estratégia permite à alta gestão visualizar claramente o que está em jogo e como os investimentos em segurança podem proteger não apenas os ativos da empresa, mas também sua continuidade operacional e reputação.  Por exemplo, ajudando a alta gestão compreender o valor de cada ação proposta em termos de redução de riscos, e não no valor das funcionalidades técnicas associadas à aquisição de uma tecnologia de proteção específica.

Abaixo estão algumas etapas práticas para ajudar no convencimento:

 

  • Quantificar o Risco: Estime o impacto financeiro potencial de um incidente cibernético, incluindo prejuízos diretos, custos de recuperação, perda de clientes e danos à reputação. Isso pode ser feito utilizando métricas específicas, como o custo médio de uma violação de dados ou a perda de receita devido a interrupções operacionais.
  • Demonstrar Exemplos Reais: Apresente exemplos de empresas similares, do mesmo segmento, que enfrentaram incidentes cibernéticos e os prejuízos que sofreram por não estarem devidamente preparadas. Estudos de caso que mostram falhas e sucessos podem ajudar a ilustrar a importância de um investimento preventivo.
  • Conectar Segurança aos Objetivos de Negócio: Explique como a segurança cibernética está diretamente ligada à capacidade da empresa de operar sem interrupções, atender clientes de forma segura e garantir conformidade regulatória. Destaque que a segurança não é um gasto, mas uma forma de garantir a continuidade dos negócios e a mitigação de riscos.
  • Plano de Retorno sobre Investimento (ROI): Crie um plano que demonstre o retorno sobre o investimento (ROI) em segurança cibernética. Isso pode incluir a redução de custos associados a incidentes, a minimização de tempos de inatividade e a proteção contra multas por descumprimento de regulamentações.
  • Alinhar com Conformidade e Regulamentações: Muitas PMEs estão sujeitas a regulamentações, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Mostrar como os investimentos em resposta a incidentes podem ajudar a empresa a cumprir com essas regulamentações pode ser um argumento convincente para a alta gestão.

Ao adotar uma abordagem baseada em risco e comunicar claramente os benefícios e a necessidade de segurança cibernética, a área de TI pode ganhar o apoio da alta gestão e garantir os recursos necessários para proteger a empresa de ameaças cibernéticas cada vez mais sofisticadas.

Estruturando um Processo Eficaz de Resposta a Incidentes

Após convencer a alta gestão da importância de investir em segurança, o próximo passo é estruturar um processo de resposta a incidentes que seja robusto e acessível, utilizando as melhores práticas e ferramentas disponíveis. Isso ajudará a empresa a estar preparada para enfrentar as ameaças cibernéticas de maneira eficaz e a garantir a continuidade dos negócios. Vamos explorar cada uma das etapas necessárias de uma forma prática e técnica, considerando soluções que abrangem proteção, detecção e resposta, sem mencionar nomes específicos de produtos ou fabricantes.

Para definir o processo de resposta a incidentes, utilizamos o NIST Computer Security Incident Handling Guide como base. Esse guia fornece diretrizes claras e práticas para lidar com incidentes de segurança de forma eficiente, abordando todas as etapas desde a preparação até a resposta e recuperação.

  1. Preparação

A preparação envolve estabelecer as bases para responder de forma eficaz a um incidente. Uma boa prática é definir claramente o Plano de Resposta a Incidentes e garantir que todos os envolvidos estejam preparados. Isso inclui:

  • Definir Papéis e Responsabilidades: A equipe de TI deve definir quem é responsável por cada ação durante um incidente, como contenção, isolamentos, comunicações e restauração de serviços. As empresas devem formalizar esses papéis para garantir que todos saibam exatamente o que fazer quando ocorrer um incidente.
  • Treinamento e Simulações: Realizar treinamentos e simulações regulares, utilizando plataformas ou ações manuais, que permitem simular ataques e testar o tempo de resposta das ações. Isso garante que a equipe esteja preparada para agir rapidamente quando necessário e ajuda a identificar pontos fracos nos processos que precisam ser melhorados. 
  • Ferramentas de Monitoramento de Anomalias: Ferramentas de monitoramento contínuo são essenciais para detectar atividades suspeitas em toda a superfície de ataque interna e externa. O foco deve ser estabelecer essas ferramentas, e garantir que estejam configuradas corretamente para alertar sobre atividades não autorizadas, ajudando a TI a ter visibilidade completa dos ativos críticos e potenciais vulnerabilidades.
  1. Detecção e Análise

    A detecção rápida de um incidente é fundamental para reduzir o impacto potencial. Para isso, a empresa deve utilizar soluções que forneçam visibilidade completa sobre o tráfego de rede, endpoints, identidade e outras áreas críticas da infraestrutura.

  • Monitoramento Contínuo: Utilizar sistemas de monitoramento de eventos que capturam e analisam dados em tempo real, identificando anomalias e possíveis compromissos de segurança. Empresas em um estágio de de maior maturidade devem integrar esses sistemas com respostas automatizadas para acelerar o processo de contenção.
  • Detecção de Ameaças com IA: Adotar uma abordagem baseada em inteligência artificial (IA) para detectar ameaças em estágios iniciais. Ferramentas que utilizam IA são capazes de correlacionar eventos em toda a infraestrutura e detectar comportamentos anômalos, permitindo uma resposta proativa e reduzindo falsos positivos.
  1. Contenção, Erradicação e Recuperação

Assim que um incidente é detectado, as etapas de contenção, erradicação e recuperação entram em ação para minimizar os danos e restaurar os sistemas.

  • Isolamento de Sistemas Comprometidos: Implementar funcionalidades de isolamento automático dos sistemas comprometidos. Para muitas PMEs, isso pode ser uma ação manual realizada pela equipe de TI ou equipes de resposta terceirizadas, mas deve ser progressivamente automatizado para melhorar a eficácia e a rapidez da contenção.
  • Erradicação do Problema: Após o isolamento, é crucial erradicar a causa raiz do problema. Isso inclui o uso de ferramentas que realizam a remoção de malwares e verificam a integridade dos sistemas comprometidos. Empresas podem realizar essas ações utilizando equipes internas ou terceirizadas para realizar essa erradicação de forma eficaz.
  • Recuperação e Restauração Segura: Depois de erradicar a ameaça, é necessário restaurar os sistemas. A restauração deve ser feita a partir de backups seguros e testados, garantindo que não existam ameaças remanescentes. Estabelecer processos de teste regular de backups também é fundamental para assegurar que a recuperação seja feita de maneira rápida e segura.
  1. Atividades Pós-Incidente

Após a contenção e recuperação do incidente, é importante aprender com a experiência e melhorar as defesas futuras.

  • Análise Pós-Incidente: Realizar uma análise completa para entender como o ataque ocorreu, que vulnerabilidades foram exploradas e como evitar que isso aconteça novamente. Esse tipo de análise deve ser documentado e revisitado regularmente para garantir a melhoria contínua dos processos de segurança.
  • Relatórios e Lições Aprendidas: Documentar tudo o que aconteceu durante o incidente e criar relatórios detalhados com lições aprendidas. Esses relatórios devem ser compartilhados com a alta gestão para justificar futuros investimentos e reforçar a importância da cibersegurança. Além disso, usar esses relatórios para ajustar continuamente as políticas e melhorar a eficácia dos processos de segurança é essencial para evitar incidentes futuros.

Ao utilizar uma combinação de ferramentas de monitoramento contínuo, detecção automatizada, resposta rápida e análise pós-incidente, as PMEs podem estruturar um processo de resposta a incidentes que não apenas mitigue riscos, mas também aumente a resiliência da organização a longo prazo. As tecnologias existentes permitem automatizar grande parte desse processo, ajudando a compensar a falta de uma equipe dedicada de segurança.

SOC Interno, SOC as a Service, ou MDR

Para mitigar riscos e responder a incidentes cibernéticos de forma eficiente, as empresas têm a opção de implementar um SOC interno, contratar um SOC como Serviço (SOC as a Service) ou optar por um serviço de Managed Detection and Response (MDR). Essas opções oferecem diferentes níveis de maturidade e capacidade para responder a ameaças cibernéticas, de acordo com a necessidade e os recursos disponíveis da empresa.

  • SOC Interno: Manter um SOC interno requer uma equipe especializada em segurança cibernética, infraestrutura dedicada e ferramentas para monitoramento contínuo e resposta a incidentes. Esta opção é adequada para empresas que possuem capacidade de investimento e querem ter controle total sobre as operações de segurança. No entanto, é desafiador para PMEs, devido ao alto custo e à escassez de mão de obra qualificada.
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  • SOC as a Service: Um SOC como Serviço (SOCaaS) oferece uma solução terceirizada de operações de segurança, fornecendo monitoramento contínuo, análise de ameaças e equipe de resposta a incidentes dedicas ou compartilhadas. O SOC como serviço, normalmente utiliza ferramentas de monitoramento mais tradicionais como SIEM (Security Information Event Management), com visibilidade mais limitada e possui foco mais associado a compliance regulatório. No entanto, essa opção pode ser mais custosa, pois envolve o suporte contínuo da ferramenta de monitoramento, equipe de especialistas multidisciplinares, além de uma gama completa de serviços de operações de segurança. 
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  • MDR (Managed Detection and Response): O MDR é um serviço é de gerenciamento que combina tecnologias avançadas, processos estruturados e equipes especializadas para detectar, analisar e responder a incidentes de segurança cibernética de forma contínua. O MDR também pode ser considerado um “SOC as a Service”, mas com foco mais abrangente na Detecção e Resposta a ameaças de toda a superfície de ataque, incluindo ambientes em nuvem. O MDR utiliza tecnologias de ponta, como plataformas XDR (Extended Detection and Response) com inteligência artificial e aprendizado de máquina para monitorar e analisar dados de telemetria de diversas fontes e identificar ameaças e gerar respostas automatizadas. Para PMEs, o MDR é uma excelente opção, pois oferece uma abordagem proativa de segurança, com custo mais aderente, reduzindo significativamente o risco de incidentes cibernéticos.

Contratar um serviço terceirizado, como o SOC as a Service ou o MDR, pode ser uma maneira prática e eficiente para as empresas garantirem um nível elevado de segurança sem enfrentar os desafios de falta de recursos e especialização. Esses serviços proporcionam acesso a tecnologias e especialistas que ajudam a proteger a empresa contra ameaças crescentes, alinhando-se com as melhores práticas de segurança e garantindo maior resiliência cibernética.

Conclusão: Transformando o Caos em Segurança

 

Independente da estratégia adotada, criar um SOC interno ou terceirizar com uma empresa especializada, o processo de resposta a incidentes é um desafio que exige preparação e uma abordagem bem estruturada. Ao implementar um processo de resposta a incidentes que contemple as realidades financeiras, a escassez de mão de obra qualificada e a necessidade de conscientização, é possível minimizar prejuízos e proteger não apenas os ativos da empresa, mas também a confiança dos clientes e a reputação da marca. Transforme o caos em segurança, começando hoje a estruturar seu processo de resposta a incidentes.

Leonardo Cordeiro

CTO da Netcenter

Com mais de 29 anos de experiência no setor de TI, Leonardo Cordeiro é CTO e sócio da Netcenter desde 2010.

Sua experiência reside em serviços de TI e Segurança Cibernética, incluindo serviços gerenciados de detecção e resposta, gerenciamento de vulnerabilidades, implementação e suporte de plataformas de segurança de classe mundial. Como arquiteto de soluções de segurança cibernética para fornecedores líderes de segurança, como Fortinet, Microsoft, Sophos, Tenable e Trend Micro, Leonardo possui amplo conhecimento em soluções que atendem às necessidades de negócios e aos requisitos de Segurança de empresas de diversos segmentos.

Sua missão é ajudar a garantir a segurança da sua organização e fornecer as melhores soluções adaptadas às necessidades específicas de nossos clientes.